quinta-feira, 16 de julho de 2009

Trilha de contradições

"Viver é subir uma escada rolante pelo lado que desce." Já escrevi sobre essa frase. Sim, repito alguns temas, que são parte do meu repertório, pois todo escritor, todo pintor, tem seus temas recorrentes. No alto dessa escada seduzem novidades e nos angustia o excesso de ofertas. Para baixo nos convocam a futilidade, o desalento ou o esquecimento nas drogas. Na dura obrigação de ser "felizes", embora ninguém saiba o que isso significa, nossos enganos nos dirigem com mão firme numa trilha de contradições.
Apregoa-se a liberdade, mas somos escravos de mil deveres. Oferecem-nos múltiplos bens, mas queremos mais. Em toda esquina novas atrações, e continuamos insatisfeitos. Desejamos permanência, e nos empenhamos em destruir. Nós nos consideramos modernos, mas sufocamos debaixo dos preconceitos, pois toda nossa sociedade, que se diz libertária, é um corredor com janelinhas de cela onde aprisionamos corpo e alma.A gente se imagina moderno, mas veste a camisa de força da ignorância e da alienação, na obrigação do "ter de": ter de ser bonito, rico, famoso, animadíssimo, ter de aparecer - que canseira.
Como ficcionista, meu trabalho é inventar histórias; como colunista, é observar a realidade, ver o que fazemos e como somos. A maior parte de nós nasce e morre sem pensar em nenhuma dessas questões de que falei acima, ou sem jamais ouvir falar nelas. Questionar dá trabalho, é sem graça, e não adianta nada, pensamos. Tudo parece se resumir em nascer, trabalhar, arcar com dívidas financeiras e emocionais, lutar para se enquadrar em modelos absurdos que nos são impostos. Às vezes, pode-se produzir algo de positivo, como uma lavoura, uma família, uma refeição, um negócio honesto, uma cura, um bem para a comunidade, um gesto amigo.
Mas cadê o tempo e disposição, se o tumulto bate à nossa porta, os desastres se acumulam - a crise e as crises, pouca trégua e nenhuma misericórdia. Angústias da nossa contraditória cultura: nunca cozinhar foi tão chique, nunca houve tantas delícias, mas comer é proibido, pois engorda ou aumenta o colesterol. Nunca se falou tanto em sexo, mas estamos desinteressados, exaustos demais, com medo de doenças. O jeito seria parar e refletir, reformular algumas coisas, deletar outras - criar novas, também. Mas, nessa correria, parar para pensar é um luxo, um susto, uma excentricidade, quando devia ser coisa cotidiana como o café e o pão. Para alguns, a maioria talvez, refletir dá melancolia, ficar quieto é como estar doente, é incômodo, é chato: "Parar para pensar? Nem pensar! Se fizer isso eu desmorono". Para que questionar a desordem e os males todos, para que sair da rotina e querer descobrir um sentido para a vida, até mesmo curtir o belo e o bom, que talvez existam? Pois, se for ilusão, a gente perdeu um precioso tempo com essa bobajada, e aí o ônibus passou, o bar fechou, a festa acabou, a mulher fugiu, o marido se matou, o filho... nem falar.
Então vamos ao nosso grande recurso: a bolsinha de medicamentos. A pílula para dormir e a outra para acordar, a pílula contra depressão (que nos tira o libido) e a outra para compensar isso (que nos rouba a naturalidade), e aquela que ninguém sabe para que serve, mas que todo mundo toma. Fingindo não estar nem aí, parecemos modernos e espertos, e queremos o máximo: que para alguns é enganar os outros; para estes, é grana e poder, beleza e prestígio; para aqueles, é delírio e esquecimento.
Para poucos, é realizar alguma coisa útil, ser honrado, apreciar a natureza, sentir o calor humano e partilhar afeto. Mas, em geral medicados, padronizados, desesperados, medíocres e perversos, nos achando o máximo ou nos sentindo um lixo, carregamos a mala da culpa e a mochila da ansiedade. Refletindo, veríamos que somos apenas humanos, e que nisso existe alguma grandeza. Mas, convencidos de que pensar dói e de que mudar é negativo, tateamos sozinhos no escuro, manada confusa subindo a escada rolante pelo lado errado.
Lya Luft

Veja
Editora ABRIL, edição 2119 - ano 42 - nº 26
1º de julho de 2009

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sem estar contando estrelas!

Foi uma noite inspiradora, eu tenho tido noites inspiradoras. Graças a DEUS, tenho também, e com muita satisfação, me inspirado muito COM DEUS; descobri anjos da guarda humanos, e on-line! Sinto-me bem, tenho reagido bem. E finalmente, me senti em PAZ!
Ontem eu olhei pra minha vida e percebi uma coisa, percebi que tudo até aqui valeu a pena, percebi que cada dor, cada sorriso, cada lágrima até aqui valeu muito a pena. Percebi, e agora eu bem digo toda a falta e abstinência emocional que tenho sentido nos últimos meses. Eu me simpatizei pela falta, e me apaixonei perdidamente pela saudade que carrego comigo nos meus dias nada empolgantes!
Senti falta de um abraço, e fiquei feliz por chorar a saudade de cada abraço que eu já tive; senti falta do dia em que eu tive saudade de uma risada, simplesmente, por só agora ter a noção do brilho dessa risada; eu senti falta de me sentir sozinha, mas eu ainda queria uma viagem de apenas alguns minutos pra matar algumas saudades; eu senti falta de muitas pessoas, de cada amigo, de cada anjo, do meu irmão, senti falta de mim, de uma parte que ficou no mesmo lugar de onde vem cada lembrança... e finalmente eu olhei pra frente e sorri!
E enquanto eu me sentir no direito de sorrir, principalmente pelo fato de saber que tudo o que passou foi divino, o medo de não saber o que vem pela frente não me importa, eu tenho fé e coragem, e vou muito bem acompanhada da minha sorte e da minha história. Sempre!